A forma e a fôrma

05/06/2009 às 19:42 | Publicado em Uncategorized | 2 Comentários

 

   

VOLP

 

Em homenagem à nossa impostergável reforma ortográfica e seus insignes elaboradores, que generosamente facultaram o acento diferencial entre forma e fôrma.

 

 

                                                          A forma da fôrma

                                                          é a fôrma da fôrma,

                                                          a forma tem fôrma

                                                          e a fôrma tem forma.

 

                                                          Não há forma sem fôrma

                                                          nem fôrma sem forma,

                                                          a fôrma faz a forma

                                                          com a forma da fôrma.

 

                                                         Quem tem fôrma, tem forma,

                                                         quem tem fôrma e forma

                                                         dita a norma.

VOLP 2

Passaredo

04/06/2009 às 12:12 | Publicado em Uncategorized | 3 Comentários

  

 

Andorinha lá fora está dizendo:

“Passei o dia à toa, à toa!” 

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!

Passei a vida à toa, à toa…

(Andorinha, Manuel Bandeira)

 

 

                        De manhã, acordo com o passarinho dizendo que bem me viu.

                        Mesmo tendo de sair do aconchego da cama para as peripécias do dia, fico feliz em saber que pelo menos alguém bem me vê.

                        Abro a janela e também o vejo, empoleirado logo ali, no fio.

                        Quando saio para o quintal, com a xícara de café na mão, para bem o ver, ele, benfazejo, deixa o fio e vem para o muro da casa, e logo depois pousa no quintal.

                        É um lindo  passarinho, grande, bem emplumado, de peito amarelo.

                        Sem cerimônia, aproxima-se para abocanhar migalhas, que só ele bem vê,  talvez do pão que mastigo.

                        Pobres avezinhas, que vêm para a cidade expulsas das matas extintas pela fúria do mar de cana que nos sitia. Nem mesmo as pitangas, que vivem a chorar, os usineiros sequiosos lhes deixam, enquanto matam de exaustão os cortadores da cana, que só é doce para eles, os donos da terra.

                        Será que também isso o passarinho bem vê?

                        Na dúvida, digo-lhe eu, bicho homem, tomando emprestada a canção de Chico Buarque e Francis Hime:

                                    bem-te-vi 2        

Bico calado

Toma cuidado

Que o homem vem aí

                                                  O homem vem aí

                                                  O homem vem aí!

 

Velhas noites de domingo

01/06/2009 às 22:34 | Publicado em Uncategorized | 10 Comentários

 

 

                           Na década dos anos 60 (sim, do século passado!), havia as tão esperadas tardes de sábado, em que a TV Record (não a do bispo Macedo, mas a da família Machado de Carvalho) apresentava um programa para a juventude, chamado Jovem Guarda, que acabou se transformando num movimento musical.

                           Durante algum tempo, ainda no começo da adolescência, com alguns amigos da época, ficávamos grudados na televisão assistindo ao programa, comandado por um moço cabeludo, de olhos tristes, que com sua voz afinadíssima cantava baladas românticas e rocks bem comportados. Ele era uma brasa, mora!

                           Mas vieram os Beatles, os Rolling Stones, e em seguida os festivais de MPB, promovidos pela mesma TV Record, quando descobrimos Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Morais, Geraldo Vandré, Elis Regina e tantos outros, e esses passaram ser a nossa turma e a nossa praia. Depois disso fomos apresentados ainda à bossa nova e à velha guarda: Pixinguinha, Noel, Cartola, Nelson Cavaquinho, Adoniran Barbosa, Dorival Caymmi, Orestes Barbosa, Lupicínio…

                           Passei a encarar Roberto Carlos com certo desdém, reconhecendo sua voz e qualidade de intérprete, mas já não mais me identificando com suas canções e seus ares de artista global. Quando então ele enveredou para os temas messiânicos ou claramente oportunistas, celebrando gordinhas, caminhoneiros e que tais, o meu distanciamento e desinteresse aumentaram.

                           Desde a infância tenho algumas diferenças mal resolvidas com a segunda-feira, que já começam no domingo à noite. Nada de muito original, pois que muita gente sente a mesma coisa.

                           As velhas noites de domingo, ao contrário daqueles sábados juvenis, que depois se transmudaram em jovens tardes de domingos, são para mim um porre, seguido da ressaca depressiva da manhã seguinte.

                           A noite do último domingo não parecia diferente, agravada pelo fato de estar sozinho em casa, enquanto minha mulher em São Paulo acolhe sob as asas as crias queridas que nos deixaram o ninho vazio.

                           Eis, porém, que zapeando com o controle remoto dou com o especial da Globo Elas cantam Roberto, homenagem aos 50 anos de carreira do antigo rei da jovem guarda, hoje quase setentão, e elevado à condição de Rei Sol dos cantores brasileiros.

                           A propósito, mereceria um estudo o fenômeno que se verifica há algum tempo no Brasil: o grande número e a contínua renovação de cantoras de excelente qualidade, em contraste com a escassez de bons cantores. Temos extraordinários compositores que também interpretam suas obras, mas cantores notáveis, de ofício, são raros.

                           O especial da Globo, além de proporcionar o encanto do Theatro Municipal de São Paulo, uma grande orquestra e lindos arranjos, desfilou uma seleção de ótimas cantoras interpretando canções do Rei Roberto.

                           Nenhuma delas chegou a destoar, mas, questão de gosto, para mim ficaram em primeiríssimo plano as perfomances maravilhosas de Ana Carolina, Nana Caymmi, Alcione,  Zizi e Luiza Possi. Soube que na edição a  Globo cortou os solos de Marina Lima, Adriana Calcanhoto e Marti’nália, que gostaria muito de ter visto.  Também me agradou Ivete Sangalo, com sua voz grave, potente e suave ao mesmo tempo, mas especialmente pela beleza da sua gravidez e a ternura exalada ao acariciar a barriga proeminente, preparando outra pessoa.

                           Sandy, bonitinha, engraçadinha, afinadinha, educadinha, chatinha, inodora e insípida. Ainda por maldade, logo depois dela vieram as divas Alcione e Nana!

                           Decepção da noite: Marília Pera, com sua interpretação absolutamente over, comicamente trágica, até mesmo constrangedora de uma canção fraca, de um playboy que fala em fugir das recordações de um amor perdido, enquanto se gaba veladamente da velocidade que imprime ao seu carango… A própria letra ironiza no final ao dizer que é melhor parar de pensar na amada e prestar atenção na estrada, o que foi bramido por Marília em tom lancinante, como as dores de  uma Medéia, peça com que estreou no teatro ainda na infância, em dias mais felizes.

                      Ausências sentidas: Maria Rita, Bethânia e Gal. Ausência comemorada: Vanessa da Matta, uma Sandy bicho-grilo.

                           Mesmo assim, para uma noite de domingo, véspera de segunda-feira, valeu! E me reconciliei com o Rei e algumas de suas belas canções românticas.

 

 Assista ao gran finale do showRoberto Carlos

 

 

 

 

 

 

 

 

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